Depois do primeiro fim-de-semana em São Luís, eu e Ines fomos para Santa Luzia do Paruá, onde minha mãe mora com o Zé Rubem na fazenda dela, a Fazenda Paraíso. Ela trabalha como pediatra em Santa Luzia, e o Ze Rubem cuida das fazendas (são fazendas de vacas leiteiras). Mamãe tinha ido para São Luís para me receber, e na segunda-feira de madrugada voltou para Santa Luzia. Na terça-feira eu, Ines, vovó e vovô fomos também, mas a viagem foi um pouco complicada – quando estávamos perto de chegar, a gente recebeu notícia que a minha tia Marla tinha tido um ataque de enxaquecas, tinha ido ao hospital, e que talvez tivesse um AVC (aneurismo?). Felizmente, no fim foi alarme falso, e continuamos a viagem.
Eu tinha dito pra Ines que uns dias na fazenda da minha mãe iria ser muito tranqüilo, uma chance para relaxar, já que lá não tinha nada pra fazer, no bom sentido – não tínhamos nenhum trabalho, não havia a correria do dia-a-dia... Infelizmente, não foi bem assim. Começava com os bichos às 6 da manhã berrando de fome, exigindo comida. Eram os cachorros, os passarinhos, as vacas mugindo de longe, mas principalmente os papagaios, que faziam uma algazarra e não se calavam até estarem de barriga cheia. Depois eram as moscas, que não nos deixavam voltar a dormir, com um zumbido constante em volta da cabeça. A gente dormia completamente coberto com um lençol para evitar que elas pousassem na gente. Houve uma invasão de moscas na fazenda que durou vários dias, e cobriu a casa toda de pontos pretos. Na hora da refeição então era um saco, tentando arranjar os ventiladores em melhor posição possível para espantar as moscas, e ainda assim ficar a refeição inteira abanando tudo. Dava vontade de fugir da casa, ir andar pelo mato, ir pra Santa Luzia, qualquer lugar longe das moscas. Mas infelizmente a gente passava a maior parte do tempo com as moscas mesmo.
Havia na fazenda um currupião, um pássaro amarelo e preto, bonito, e muito manso – adorava pousar na cabeça das pessoas, e deixava a gente pegar nele sem reclamar. Mas o mais interessante foi o que eu aprendi: que o canto dele é o hino nacional brasileiro. Quer dizer, o hino foi baseado no canto dele – e não apenas uma idéia, ou umas notas, foram dois versos inteiros. Ele canta exatamente como a gente assobia o hino. Se duvidarem, vejam no YouTube.
Na quinta feira, minha irmã também veio para a fazenda com o Rafael e as meninas, Luana (4 anos) e Sofia (quase 1), e aí definitivamente acabou o sossego. Ainda haviam uns poucos momentos de paz, logo após o almoço, quando a Ines, o Zé Rubem, Rafael e vovô desmaiavam nas redes. Mas o dia me parecia mais uma série de “batalhas”: começava com a batalha do café da manhã, com os preparativos, colocar a mesa, a afobação com a comida, a refeição em si, a luta contra as moscas, a limpeza, a arrumação. Logo depois era a batalha do almoço, dar comida pras meninas, mais moscas, mais afobação com a comida (parecia que tinha gente passando fome), uma correria. Depois da “sesta”, começava a batalha da tarde para sairmos de casa, que levava em média umas 4 horas para arrumar as meninas pra sair: o lanche de uma, banhar a outra, dar lanche pra segunda, banhar, jantar, mamar, cochilo, banhar de novo, até que finalmente estavam as duas prontas pra sair.
No fim do dia as coisas se aquietavam, com todo mundo sentado em frente da televisão vendo a novela das 8, que pelo visto era um vício. Ze Rubem e vovô se recusavam a perder um capítulo sequer da novela. Na quinta-feira houve uma cerimônia na câmara municipal para honrar o Zé Rubem (e mais 4 pessoas) como Cidadão de Santa Luzia do Paruá. Como era ocasião especial, a gente ia ficar para jantar na cidade, mas vovô vetou a idéia – queria voltar pra fazenda para ver a novela. Chegou ao ponto que eles deixaram de sair várias vezes para poder ver a novela. Mas o que foi engraçado mesmo é que não eram só eles – em todo o lado (e em Barreirinhas na semana seguinte), era tudo muito vazio nessa hora – estava todo mundo em casa vendo a novela. Uma vez em Barreirinhas, eu e a Ines entramos numa sorveteria (mamãe e Zé Rubem ficaram no hotel vendo a novela) e estava todo mundo grudado na televisão. Felizmente deu intervalo logo e nos atenderam.
Contaram-me que Santa Luzia tinha crescido um bocado desde a última vez que estive lá, há dois anos. Eu não percebi, mas é possível que seja porque eu não tivesse prestado atenção. Mas uma coisa a qual prestei atenção sim foi que há dois anos eu tinha ido a um lugar com Net na rodoviária; desta vez havia 3 lugares, e que agora se chamam “lan house”. E também notamos que havia uma proliferação de lojas de roupa – haviam muitas em volta da avenida principal (a BR). Até a Jailma, uma menina amiga de mamãe, tinha uma loja de roupas que era parada diária no programa da família.
No domingo todo mundo foi embora, e logo depois as moscas morreram com um veneno novo. Paz! Finalmente deu para relaxar um pouco e explorar a fazenda. Mamãe e Zé Rubem compraram este ano uma fazenda nova de 200 hectares, a Dois, perto da outra fazenda de mamãe. A gente foi conhecer a fazenda a cavalo – eu e Ines a cavalo (só haviam dois), mamãe e Zé Rubem caminhando atrás. Infelizmente, a Ines conseguiu cair do cavalo! Na verdade, foi culpa do cavalo, que tropeçou e acabou jogando a Ines pra frente, que deu uma volta e caiu de costas no chão. Felizmente, não machucou muito, e no dia seguinte ela já estava bem o suficiente pra cair de moto. Dessa vez foi lerdeza dela mesmo. Era a primeira vez dela andando de moto. Quando ela foi tentar ligar a moto, ela não agüentou com o peso, e a moto caiu pro lado com ela, bem numa poça de lama, o que foi bom, já que lhe amorteceu a queda. Mas apesar dos acidentes, ela mostrou coragem e aprendeu a andar de moto, e no dia seguinte já estava no cavalo novamente. Desta vez ela pegou o cavalo maior, e melhor – o que tropeçava sobrou pra mim. A gente ainda passeou bastante, e a fazenda nova é muito bonita, muito verde, com morros e riachos. A Xuxa, a cadelinha da fazenda (pequena mesmo, só tinha um palmo de altura, dois de comprimento), seguiu a gente o dia todo. A gente andava no mato alto e ela disaparecia, e de repente ela decidia sair correndo e dando saltos enormes (parecia um coelho), perseguindo as vacas – estava a se divertir muito. Mas a maior loucura foi no fim do dia. Depois do passeio, o Zé Rubem voltou pra casa com os cavalos, a Ines foi no carro com mamãe, e eu levei a moto. E a Xuxa decidiu vir comigo – correndo! Nós estávamos a correr entre 35 e 40 km/h, e ela não apenas me acompanhava, ela me passava, pulava, atravessava o caminho... Por mais de um quilometro. Apesar da nossa preocupação, parecia que para ela isso não foi nada – ainda estava muito brincalhona em casa, apesar de estar morta de sede.
No dia seguinte voltamos para São Luís, para passar o natal com a família. Depois eu conto o resto!
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