Thursday, December 01, 2011

Defenestração

Para comemorar a Restauração da Independência de Portugal, que culminou com uma defenestração, vai aqui uma crônica do Luís Fernando Veríssimo sobre o assunto:



"Certas palavras tem o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias com todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra.
Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.
- Os hermeneutas estão chegando!
- Ih, agora que ninguém vai entender mais nada…
Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter um sentido oculto.
- Alo…
- O que é que você quer dizer com isso?
Traquinagem deveria ser uma peça mecânica.
- Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.
Plúmbeo deveria ser barulho que um corpo faz ao cair na água.
Mas, nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração.
A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar deveria ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deveriam sussurrar ao ouvido de mulheres:
- Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas, algumas… Ah, algumas defenestravam.
Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores profissionais.
Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerram os documentos formais? “Nesses termos , pede defenestração..” Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-la usado uma ou outra vez, como em?
-Aquele é um defenestrado.
Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada era a palavra exata.
Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. “Defenestração” vem do francês “Defenestration”. Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou algo pela janela.
Ato de atirar alguém ou algo pela janela!
Acabou a minha ignorância, mas não minha fascinação. Um ato como esse só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada a baixo. Por que então, defenestração?
Talvez fosse um hábito francês que caiu em desuso. Como o rapé. Um vício como o tabagismo ou as drogas, suprimido a tempo.
- Lês defenestrations. Devem ser proibidas.
- Sim, monsieur le Ministre.
- São um escândalo nacional. Ainda mais agora, com os novos prédios.
- Sim, monsieur lê Mnistre.
-Com prédios de três, quatro andares, ainda era possível. Até divertido. Mas, daí para cima vira crime. Todas as janelas do quarto andar para cima devem ter um cartaz: “Interdit de defenestrer”. Os transgressores serão multados. Os reincidentes serão presos.
Na Bastilha, o Marquês de Sade deve ter convivido com notórios defenestreurs. E a compulsão, mesmo suprimida, talvez ainda persista no homem, como persiste na sua linguagem. O mundo pode estar cheio de defenestradores latentes.
- É essa estranha vontade de jogar alguém ou algo pela janela, doutor…
- Humm, O Impulsus defenestrex de que nos fala Freud. Algo a ver com a mãe. Nada com o que se preocupar – diz o analista, afastando se da janela.
Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculante foi inventada para desencorajar a defenestração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes externas de vidro reforçado e sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia humana, nunca totalmente dominada.
Na lua-de-mel, numa suíte matrimonial no 17º andar.
-Querida…
- Mmmm?
-Há uma coisa que preciso lhe dizer…
-Fala amor.
-Sou um defenestrador.
E a noiva, na inocência, caminha para a cama:
- Estou pronta pra experimentar tudo com você. Tudo!
Uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada. Entre gemidos, ele aponta para cima e balbucia:
- Fui defenestrado…
Alguém comenta:
- Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela.
Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar o papel da máquina, amassa-lo e defenestrar essa crônica. Se ela sair é porque resisti."


Luís Fernando Veríssimo - Defenestração

Wednesday, September 28, 2011

Faster-Than-Light Fun

It's has been a lot of fun to follow the excitement about faster-than-light neutrinos on the science blogs, and I specially like the follow-up discussions in the comments sections.  It's entertaining to see the theorists come up with all sort of harebrained schemes to explain the result, in case it turns out to be right.  The two things that stood out the most for me:
  • MINOS has already seen faster-than-light neutrinos back in 2007
  • A theory that says that what we are seeing isn't the result of neutrinos traveling faster than light, but light traveling slower than light!  That is, this whole time we have been measuring the speed of light, we have been wrong, it wasn't the speed of light in relativity, but just an approximation.  The idea is that the photons interact with virtual particles in the vacuum, slowing them down - this is called the Scharnhorst effect.  So there is a c that we measure, and a c_0 which is the true speed of light, the one used in relativity.  The neutrinos interact less than photons, so they can get closer to c_0 than light itself.  Someone even calculated that the effect should be close to what is observed at OPERA, but it seemed to use a lot of handwaving to get the right result.
Like I said, fun stuff!  To read more (I chose these 2 specifically for their names):

Tuesday, February 01, 2011

Fotos do iPhone (e iPod)

Mais uma vez, perdi as fotos que tinha no iPhone quando fiz um upgrade :( . Felizmente já tinha copiado as fotos da minha última viagem, e perdi pouco.

Decidi resolver esta situação de uma vez por todas, e descobri dois Apps pra isso. Um é o PicBox (grátis) - quando a gente executa o app, ele automaticamente transfere todas as fotos ainda não transferidas para o Dropbox. Outro é o QuickShot with Dropbox ($1). Este app substitui o app de camera do iPhone, só que ao invés de gravar as fotos no iPhone, as fotos são enviadas imediatamente para o Dropbox. Como não é de graça, ainda não testei, mas se começar a tirar mais fotos no iPhone talvez eu comece a usá-lo.

Para quem não conhece o Dropbox: é um serviço de transferência de arquivos, que sincroniza uma pasta na internet com o computador, permite compartilhar arquivos com muita facilidade, e dá 2GB de graça. Neste caso, quando o iPhone transfere as fotos para o Dropbox, elas são copiadas automaticamente para o computador. Se não o conhece, recomendo. Aliás, se forem testar o Dropbox, agradeço se usarem meu convite: eu ganho espaço extra sempre que alguém o usa - e melhor ainda, quem usa o convite também ganha 250MB extra :) .

Convite para o Dropbox.