Eu e a Ines fomos passar ~1 semana de férias na Turquia neste verão. Nós passamos 5 dias em Istanbul, a maior cidade do país, e 3 dias na costa sul do país, na região de Fethiye. Para ler sobre a primeira parte da nossa viagem a Turquia, veja o post anterior: Istanbul (Not Constantinople).
Depois de 4 dias em Istanbul, eu e Ines pegamos um vôo para o sul. A gente tinha decidido que queria pegar uns dias de praia, e pesquisamos no Google qual era a melhor praia da Turquia. Vários "sites" indicaram Patara, uma praia de 18km de extensão no Mediterrâneo, perto da cidade de Fethiye. Escolhemos ao acaso uma pensão na vilazinha, a Akay Pension, e só quando chegamos lá é que descobrimos que a pensão era muito bem recomendada na internet, especialmente por causa da ótima comida. Descobrimos isso logo que chegamos: nosso primeiro jantar lá (uma "caçarola" de galinha) foi a melhor refeição da viagem. Os donos eram um casal muito simpático e atencioso, e Kazim (o dono) nos ofereceu muitas dicas e ajuda com o planejamento dos nossos dias lá. Se nós soubéssemos antes como era bom em Patara, tínhamos ficado muito mais tempo - ficamos muito arrependidos de ter ficado tão pouco.
Patara era uma cidade do Império Romana, onde nasceu o famoso bispo Santo Nicolau no século IV, em quem é baseado o personagem do Papai Noel. Antes do Império Romano, a região era habitada pelos Lícios, um povo ligado aos gregos, por volta dos séculos 7 a 4 antes de Cristo. Aliás, aprendemos que muitas das histórias e mitos gregos se passaram na costa oeste Turquia, e mais especificamente na região da Lícia, onde estávamos. Por exemplo, Tróia, da famosa guerra de Tróia narrada na Ilíada, ficava na Turquia. O Rei Midas, aquele do toque de ouro, era um rei da Lícia, na região onde ficamos. Também é da Lícia o Rei Gordio, que crio o nó górdio, um nó impossível de ser desamarrado, de tal maneira que um oráculo previu que quem desatasse o nó conquistaria a Ásia. Diz a lenda que Alexandre o Grande, quando passava por lá, foi examinar o nó e depois de muito pensar, puxou a espada e cortou o nó; logo depois ele conquistaria todo o mundo conhecido. E há finalmente a história do velhinho generoso que dava presentes as crianças órfãs e pobres...
No primeiro dia em Patara fomos a praia. É uma boa caminhada para chegar a praia, porque a estrada passa por uma área protegida por causa das ruínas de Patara. A praia é muito longa e calma, e passamos o dia pegando sol e relaxando. Na volta, passeamos pelas ruínas, que estão sendo restauradas. O que mais chama a atenção é o anfiteatro romano, enorme e muito bem conservado. Também haviam restos de palácios, casas e de uma basílica (eu acho - as coisas não estavam descritas em lugar nenhum). Dava para ver que o trabalho de restauração sendo feito: haviam fileiras de pedras organizadas por tamanho e formato, ou por detalhes, tomando um campo inteiro. Algumas tinha pedaço de um arco, outras tinham um linha que parecia ser a fachada de um telhado, etc... Era como um quebra-cabeça gigante, remontando todas aquelas pedras em palácios, casas, ruas, colunas... E gigante mesmo, pois vimos que as pedras eram numeradas, e encontramos algumas com os números bem além dos 880,000! Também havia um cemitério Lício sendo desenterrado, com os túmulos (sarcófagos em formato de templos) construídos acima da terra. Estes eram ainda mais antigos do que as ruínas romanas, com uns 2,500 anos de idade.
No dia seguinte fomos a Kas para pegar um passeio de barco. Este tipo de passeio nesta região era muito recomendado pelo guia turístico, pelo pessoal da pousada e até pela revista de bordo do avião. As estradas para Kas era cheia de curvas e contracurvas, beirando um desfiladeiro que dava pro mar. Apesar de muito bonito, chegamos em Kas em cima da hora, e não pudemos pesquisar muito antes de escolher um barco, pois todos partiam em menos de 10 minutos. Pegamos um que parecia bonitinho (não queríamos uma monstruosidade de fibra, mas algo de madeira, mais tradicional), e demos sorte na nossa escolha, pois foi o barco que voltou mais tarde, as 7 da noite. O barco parou 5 vezes para banharmos no mar, geralmente em enseadas com nada a volta. A água era de um azul perfeito, e limpíssima. O destino final da viagem era Kelkova, as ruínas de uma cidade antiga submersa depois de um terremoto. A água era tão limpa que dava para ver. Só era pena não que podíamos mergulhar lá (era uma zona protegida)! Felizmente paramos logo depois em outras ruínas onde podíamos mergulhar, e vimos paredes e fundações de estruturas antigas. Também paramos numa vilazinha com um forte romano no topo, mas não pudemos entrar porque deixamos o dinheiro no barco. O guarda nos indicou um lugar com ótima vista, e a escalada não foi perdida. Lá de cima avistamos um dos túmulos Lícios dentro d'água, e corremos lá para ver de perto antes que o barco partisse. Demos sorte, fomos uns dos poucos dos passageiros que viu o túmulo.
Nas noites depois da praia de Patara e depois do passeio de barco, passeamos por Kalkan e Kas, respectivamente. As duas era cidadezinhas turísticas, mas que tinham obviamente crescido muito nos últimos 5 anos por causa do turismo. Eram uma mistura de simpáticas com "trashy" (por causa de alguns dos turistas lá). Mas Kalkan era muito bonita, e foi pena não termos tido muito tempo para aproveitar lá.
No último dia nós fomos para o desfiladeiro de Saklikent, que o Kazim (da Akay Pension) nos recomendou. O desfiladeiro é muito legal, com paredões altíssimos (até 80 metros) e muito verticais. A gente entra pela saída do rio que corre dentro dele, por umas passarelas que passam por cima das corredeiras. Daí a gente tem que atravessar o rio, que é geladíssimo. A maior parte d'água vem por um canal subterrâneo, e depois da travessia é só um riachinho calmo. Nós caminhamos por umas boas duas horas, passando por vários pontos difíceis, onde tínhamos que escalar as pedras contra o rio. Depois de passarmos por um parte particularmente difícil, em que escalamos uma cachoeira com muito pouco apoio, decidimos voltar. Havia um grupo de voltando, uns tipos que tinham escalado as partes mais difíceis com bem menos dificuldade que a gente, que disseram que ainda não tinham chegado ao fim, mesmo tendo caminhado mais uns 20 minutos. Pelo que vimos, os poucos que tinham vindo esta distância desistiam logo antes da cachoeira, e portanto nos pareceu uma vitória termos ido além. Deixamos os nossos nomes escrito em lama na parede :), e demos meia volta. Só agora enquanto estava escrevendo é que li que o desfiladeiro tem 18km de extensão - ia demorar bem mais para chegarmos ao fim... Na saída, paramos para almoçar no rio - literalmente. Tem um restaurante que montou mesas em cima da água, com plataformas de madeira logo acima da superfície. Era bem legal. No caminho para o aeroporto, apesar de estarmos muito apertados com o tempo, decidimos pegar um pequeno desvio para Tlos, uma das maiores cidades da Lícia, para vermos os túmulos esculpidos em rocha na face das colinas. Eu já tinha ouvido falar bastante destes túmulos pré-romanos, que são uma característica da região, e não queria ir embora sem vê-los. Nós só paramos na entrada de Tlos uns 10 minutos, mas deu para ver os túmulos, e também o começo de uma cidade enorme em ruínas. Tivemos que correr para o aeroporto depois, mas valeu a pena.
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