Como se não bastassem todas as viagens que fizemos nos feriados, na semana seguinte fomos a Braga, uma cidade no norte de Portugal (ainda mais para cima do que o Porto). Eu fui participar de uma conferência lá, e a Ines veio comigo para podermos aproveitar e passear. A conferência é uma reunião bienal do LIP, o instituto em que eu trabalho. Ele tem dois pólos, e a cada 2 anos eles se reúnem para fazer apresentações e colocar todo mundo a par das pesquisas feitas pelos outros.
Braga é uma cidade antiga, com monumentos, igrejas e castelos antigos espalhados pelo centro. A praça central é muito bonita - é um espaço aberto enorme, com vários prédios antigos a volta, inclusive catedrais e uma torre de castelo medieval. O guia turístico que arranjamos lá assinala uma catedral como a atração principal do centro, mas eu não a achei tão interessante - nem a fachada nem o interior eram muito trabalhados ou bonitos. O mais interessante dela era o órgão, o único órgão duplo que já vi. Ele cobria dois lados da área do coro, tinha vários andares, era muito elaborado e coberto de ouro. Era uma monstruosidade de órgão, e me lembrava a descrição do órgão da "Unseen University" do Terry Pratchett, que era tão grande e elaborado que só podia ser tocado pelo bibliotecário-mestre (que era um orangotango e portanto tinha 4 mãos).
Mas o mais legal da viagem foi o Santuário do Bom Jesus, numa colina beirando a cidade. O santuário consistia de uma calçada subindo o pé da colina por um bosque, com fontes d'água e capelas; um conjunto de escadarias, com estátuas e mais capelas; uma igreja, grande e muito trabalhada; e um pátio com 3 capelas, onde acaba o caminho. Este caminho representava as estações da cruz, e as capelas continham estátuas com cenas dos últimos dias de Jesus. O conjunto de escadarias era feito em zig-zag duplo (duas escadas para fora seguidas de duas para dentro), e era também dividido em duas seções: as 5 escadas dos sentidos, e as 3 escadas das virtudes. O conjunto todo era muito elaborado, cheio de símbolos e alegorias. Por exemplo, a calçada inicial tinha fontes d'água, cada uma representando um planeta. As escadarias dos sentidos tinham fontes em que estátuas soltavam água pelos ouvidos, pelos olhos, pelo nariz, etc..., e tinha estátuas de profetas. As escadas das virtudes tinham decorações centrais representado virtudes, e laterais representando emoções. O caminho passava por um jardim mais elaborado, com mas escadarias, estátuas, jardins laterais com vistas, e a catedral. Lá também havia uma esplanada com bares e hotéis. O caminho continuava com mais umas capelas, até chegar a um pátio com as últimas capelas, que tinham cenas da ascensão de Jesus. O santuário era muito elaborado e interessante, e me lembrava um pouco as descrições feitas no "Anjos e Demônios" do Dan Brown.
E quase que esqueci de contar: havia também um "elevador" (um bondinho, na verdade), que sobe a colina ao lado das escadarias. O legal é que ele é movido a água, e foi construído em 1882. O princípio é muito simples, consistindo de dois bondinhos balanceados, um segurando o outro; quando um sobe, o outro desce. A água, trazida de alguma fonte ou riacho por perto, jorra constantemente, enchendo um tanque no bondinho que está parado em cima. Quando chega a hora, eles soltam os freios do bondinho, e o peso da água leva o bondinho para baixo, puxando o outro bondinho (no qual o tanque está vazio) para cima. A Ines foi quem notou o detalhe mais interessante: há um buraco no tanque do bondinho, e ele vai se esvaziando enquanto desce, e deve ficar completamente vazio quando chega ao fim. Eu imagino que os arquitetos devem der calculado exatamente o tamanho do buraco para que a perda d'água seja exatamente a necessária para diminuir a aceleração do bonde enquanto desce, assim evitando que ele vá rápido demais. É uma boa demonstração de física newtoniana para crianças. Quem diria que uma igreja faria uma ótima excursão para uma aula de ciências?
No comments:
Post a Comment